domingo, 3 de setembro de 2017

Este ano tem Copa do Mundo!

Por Rewbenio Frota

O xadrez andou errante na década de 1990, após o cisma causado pela saída de Kasparov e Short da FIDE para disputarem seu match mundial por uma associação concorrente (PCA na época). Ainda houve tentativas de manter a tradição, mas já próximo aos anos 2000 o sistema de matches para definir o campeão mundial foi trocado por um torneio de chaves eliminatórias no formato knockout (KO).

Esse campeonato mundial KO coroou jogadores como Khalifman (1999), Ponomariov (2002), Kasimdzhanov (2004) e Anand (2000 – que se tornou a exceção que confirmou a regra de que os torneios KO não favorecem os favoritos). Somente após a reunificação dos títulos mundiais (2006), esse tipo de competição não foi mais utilizado para definir o campeão do mundo. Porém, o que fazer com ele?

A FIDE, então, acertadamente, transformou o que era um formato ruim para um campeonato mundial num excelente novo tipo de torneio: a Copa do Mundo! Além disso, os finalistas da Copa do Mundo ganham vaga no Torneio de Candidatos. Por exemplo, foi por ter sido campeão da última Copa do Mundo (2015) que Sergey Karjakin iniciou seu caminho para ser o desafiante de Magnus Carlsen no ano passado.

Num torneio KO, há um peso muito grande para as partidas de desempate, que são em cadência rápida ou blitz, e isso historicamente causa dificuldades aos grandes nomes. Talvez por isso, alguns dos melhores no ranking mundial recusam-se em participar. Por exemplo, Carlsen não joga eventos assim desde a Copa do Mundo de 2007 (quando foi eliminado por Kamsky nas semifinais).

Para o público, porém, é uma festa! Se as partidas clássicas perdem em interesse porque os jogadores usam estratégias conservadoras de baixo risco, as partidas rápidas levam os grandes mestres a deixar cair todas as máscaras, tornam-se apenas humanos que precisam em poucos segundos definir seu destino no torneio, sobretudo se o desempate vai até a temida partida ‘Armagedon’ na qual não existe a figura do empate (que favorece ao jogador de peças pretas).

Hoje, 3/9, começa a Copa do Mundo 2017 em Tblisi, Georgia, e há uma grande surpresa: Magnus Carlsen vai jogar!

Como assim? Se a Copa do Mundo serve para qualificar jogadores para desafiar o Campeão Mundial, como fica se o Campeão Mundial joga o torneio? Bem, é um brecha no regulamento da FIDE (ou uma maravilhosa maneira de dar ainda mais emoção ao torneio). Talvez Magnus, que não venceu nenhum dos últimos torneios clássicos que disputou desde que confirmou seu título mundial no ano passado, queira novos desafios para demonstrar que não é o número 1 por acaso. Para nós, aficionados, é um ingrediente a mais para as emocionantes disputas que se iniciam amanhã.

Fica só uma questão para ser definida pela FIDE depois: caso Magnus alcance as finais ele terá excluído uma das vagas que a copa dá para o Torneio de Candidatos. O que deixará algum forte grande mestre muito triste.

Mas esperem, será que Magnus pretende jogar o Torneio de Candidatos? E se ele ganha esse também? Aí, ano que vem, teremos uma situação que não se vê desde 1975, quando só tivemos um jogador na disputa do Campeonato Mundial; só que desta vez não restará nenhuma dúvida de que o único presente é realmente o melhor do mundo!

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