quarta-feira, 22 de março de 2017

Sobre a palestra Fischer-Karpov

Por Fernando Melo

Os amigos enxadristas Ozymandia e Jales manisfestaram interesse sobre o conteúdo de nossa palestra a respeito de Fischer não ter jogado com Karpov em 1975, quando estava em jogo a coroa de campeão do mundo. Vejamos se consigo resumir o que disse na palestra que fiz no último dia 17. manhã de sábado, no terraço (4º andar) do Littoral Hotel:

1) Com o falecimento de Alejandro Alekhine, em 1946, a cadeira de campeão do mundo ficou vazia. A FIDE assumiu a responsabilidade e determinou em 1948, um torneio entre cinco jogadores, cujo vencedor seria o campeão do mundo. Como sabemos, o russo Miguel Botvinnik foi o vencedor.
1a) De Botvinnik até Spassky, se passaram 24 anos com os russos ganhando sempre, até que apareceu Bobby Fischer.
1b) Todos os campeões continuram jogando xadrez profissional depois da conquista da coroa, em torneios internacionais, simultâneas, ou apresentações diversas.
2b) A única exceção foi exatamente Bobby Fischer. Depois que derrotou Spassky, nunca mais(!) Fischer jogou xadrez profissional.

2) Se o imperador Julio Cesar disse: "Defender o que ganhou é mais dificil do que ganhá-lo", Tigran Petrosian, numa entrevista em 1977 faz uma observação mais consistente: Quando uma pessoa alcança o seu desejo, o seu ardor esfria. Isso é inevitável. Quando você fica mais velho você fica saciado, e a acuidade de seus instintos é gradualmente apagada.

3) Muitos jogadores que acompanharam o match Fischer-Spassky (1972), aumentaram sua conta bancária, como confessa o genial GM argentino Miguel Najdorf, que foi bem remunerado para conceder entrevistas na televisão sobre o encontro de Reykjavik. O GM iugoslavo Svetozar Gligoric fez um contrato milionário com uma  editora para que ele escrevesse um livro sobre o match. A primeira edição teve uma tiragem de 50 mil exemplares! E Bobby quanto ganhou? Nenhum dólar! Simplesmente ele desapareceu! Claro que podia ter ganho muito com suas apresentações, mas não quis mais jogar xadrez.

4) Diante do exposto, posso lembrar que os possíveis candidatos a desafiar Bobby Fischer em 1975, estavam entre os mais cotados da "jovem guarda"  o alemão Robert Hubner (tido como favorito), os russos Karpov e Savon, e o brasileiro Mequinho. Sem esquecer o próprio Spassky, Korchnoi e Petrosian, da "velha guarda".
(CONTINUA)

Um comentário:

  1. 1. Fiquei acostumado com "Mikhail", mas acredito que Miguel seja o mesmo nome. Eu conto para alguns jogadores da minha região que os russos tinham o "acordo de cavalheiros" (até mesmo mostrado no filme Pawn Sacrifice) e a maioria não acredita. É claro que eles estavam anos a frente, mas haviam muitas manipulações. Bobby foi uma "justiça poética em pessoa".

    2. Li essa entrevista do Tigran aqui no blog, e concordo 100%, assim como acrescento que Boris Spassky quando enfrentou Fischer em 72, não obstante os abalos psicológicos, já não tinha aquela força de vontade que teve entre 66 - 69.

    3. Engraçado esse lance do Fischer não ter ganho nada ai, me lembrou de uma situação contada no livro do Seirawan, que ele diz que ofereceram 1 milhão pro Bobby fazer uma propaganda de um creme dental, e ele recusou dizendo "não posso fazer isso, seria desonesto da minha parte, porque não uso essa marca."

    4. Não conheço esse alemão, só tinha conhecimento mesmo do Karpov e do Mequinho. Ao fazer 40 partidas do livro do Mequinho, deu para ver alguns resultados bem interessantes. Ele empatou com o Fischer e Spassky, venceu Korchnoi, e perdeu para Karpov.

    No fim, obrigado pelas explicações, e menção. Força e honra, Sr. Fernando. Ando cada vez mais disposto a crescer nesse esporte, e aos poucos estou pegando algumas posições no raking do meu estado, atualmente estou em 77º no Blitz e 79º no Rápido, e a caminho de jogar na modalidade do "Clássico" ainda. Ainda não tenho rating FIDE, apenas LBX, mas conforme eu vá evoluindo, possa até mesmo economizar e jogar o seu Memorial.

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